“A desordem urbana é o grande catalisador da sensação de insegurança pública e a geradora das condições propiciadoras à prática de crimes, de forma geral”.
Assim começa a descrição no site
da Prefeitura do Rio de Janeiro para apresentar a brilhante, ou melhor,
chocante campanha do Prefeito Eduardo Paes “Choque de Ordem”. Podemos
destacar a violência que o termo carrega: “choque”. Triste analogia ao cumprimento da ordem via choque elétrico,
cada qual que faça sua comparação.
Fora do campo da linguagem, a
violência continua sendo uma premissa, em vários aspectos, sobretudo contra a
população de baixa renda, ou seja a maioria. Os interesses deste choque de
ordem são bem explícitos.
“Procurando suplementar
as exigências de uma administração municipal deficitária, agora com interesse
voltado para as Olimpíadas de 2016, a operação choque de
ordem faz um rodízio em bairros como Barrada Tijuca, Copacabana, Tijuca,Flamengo, Botafogo, Centro, se estendendo aos tradicionais
bairros da zona norte e suas favelas no entorno como Morros dos
Macacos e Encontro na
divisa do Engenho Novo, à Favela da Maré, à Vila do João, também
conhecida como inferno colorido, à Nova Divinéia, à Mangueira, à Cidade de Deus e outras integrantes dos bairros da
zona oeste e sul como Rocinha, Vidigal,
Chapéu Mangueira e Ladeira dos Tabajaras.”
É evidente a
ineficiência deste sistema de ordenações públicas voltado para o capital
privado, para a especulação imobiliária, se utilizando da força policial para
implementação de ações e, sobretudo, para os interesses da classe alta, que
apoia as medidas da recém criada (2009) Secretaria da Ordem Pública, cujo objetivo
é:
“pôr um fim à desordem urbana, combater os pequenos delitos nos
principais corredores, contribuir decisivamente para a melhoria da qualidade de
vida em nossa Cidade”
A pergunta: melhoria da
qualidade de vida de quem? Pois os problemas da sociedade serão sanados na
medida em que o privilégio das classes abastadas seja reduzido e os das classes
mais baixas, for aumentado. Mas o que parece é que a tática é tirar da vista o
problema, seja lá como for, e colocá-lo debaixo do tapete. Esta prática tem
seus antecedentes históricos:
“há que se levar em conta que para boa parte dos elementos constituintes
dessa rica cultura popular em construção estão ligadas, em grande parte, ao
outro lado da moeda de todo o processo de modernização urbana do prefeito
Pereira Passos, que muito contribuíram para o título de Cidade Maravilhosa
concedido ao Rio de Janeiro. A expulsão de populares do centro da cidade, a
favelização dos morros e a criação das escola de samba, o crescimento
populacional da cidade, juntamente com a futura institucionalização do carnaval
pela prefeitura”
Portanto em função de
tal disparate ideológico de origens históricas, contrapomos esta campanha
oficial por uma que nos parece mais adequada:
CHOQUE
DÓI
Raio: símbolo do raio, fenômeno
natural que descarrega uma carga elétrica capaz de torrar um ser humano.
Coroa de bobo da corte: símbolo
do pão e do circo, elementos fundamentais para a ordenação pública.
Cifrão: símbolo da livre
iniciativa, a possibilidade de qualquer um se dar bem na vida e ter sua própria
piscina, seu plano de saúde, não necessariamente com trabalho árduo.
AR 15: símbolo das forças
especiais de ordenação pública – FEOP. Mantenedora dos rabinhos entre as
pernas.
Globo: símbolo do biscoito mais
tradicional de Ipanema.
Tubarão: símbolo da violência
como tática de convencimento. Também associado a pessoas com muito poder de
persuasão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário